quinta-feira, 15 de março de 2018

Uma tarde qualquer


Ela estava sentada no chão do quintal. Seu cabelo todo bagunçado, o joelho esquerdo ralado e ela cantarolava uma canção que havia inventado na hora. Nem percebeu que eu tinha chegado, continuou a brincar com suas bonecas e a ignorar todo o resto, como qualquer criança concentrada no próprio universo.  
Chamei seu nome, mas ela apenas me deu um breve aceno e voltou para seu mundo. Se eu bem a conhecia, e de fato convivi com ela desde que nasceu. Poderia ficar ali a tarde inteira. Sendo interrompida apenas pelo chamado do jantar pronto. Sua mãe adorava que ela tivesse tal imaginação fértil, deixava que tivesse o dia livre para trabalhar ou assistir sossegada a novela da tarde. Apesar de as vezes sentir falta de sua tagarelice infantil e devaneios que na maioria das vezes não fazia nenhum sentido, mas era divertidíssimo de ouvir 
Depois de cumprimentar minha tia, que estava atarefada, voltei para o quintal. Minha prima continuava a brincar. Sem nenhuma pressa. Sua roupa estava suja de terra, o que me dizia que havia mexido no jardim, ela não tentava passar alguma imagem de si, estava preocupada demais em inventar alguma coisa com seus brinquedos e passar o tempo. Sentei do seu lado e ela logo me colocou em sua história, e eu bem sabia que poderia durar uma vida inteira.